“Ayrton Senna foi tão
bem no teste com um Formula 1, na Inglaterra, que ninguém duvida: ele será o
próximo brasileiro na categoria, e com condições de exigir um bom contrato”.
Revista Quatro Rodas, agosto/1983.
Senna em seus primeiros testes com carros de F1. Williams, McLaren e Toleman
Fonte: Canal de Reloko86
19 de julho de 1983.
Donington, Inglaterra. “É hoje!”. Disse Senna ao chegar aos boxes da Williams
para seu primeiro teste na Formula 1, dando um tapinha no aerofólio. E foi
mesmo. Senna pilotou o Williams-Ford/Cosworth FW08C 3.0 V8 aspirado (premiação
concedida ao campeão da F3 inglesa) reserva de Keke Rosberg para o GP da
Inglaterra, realizado dois dias antes, e com 20 cavalos a menos que o bólido
principal, além de guiar com 75 litros a mais que o necessário, por solicitação
de Williams, temendo pela integridade do piloto e do carro, além dos pneus de
corridas usados, em vez de pneus de classificação, mais velozes. O banco também
estava ajustado para as dimensões do finlandês. A partir da terceira volta,
Senna bateu o tempo de Jonathan Palmer, piloto de testes da equipe e também da
F2 Europeia, baixando em um segundo a melhor marca da pista.
Comentário de Frank Williams após Senna bater o recorde da
pista de Donington para motores aspirados (1:00:05): “Fantástico!”. Frank havia
preparado um plano de adaptação para Ayrton, mas não foi necessário, sua
adaptação foi imediata. Senna já despertava a atenção da mídia brasileira, que
transmitiu provas da F3 e acompanhou os testes na F1, com a presença de
Reginaldo Leme.
Senna testando a Williams-Cosworth de 1983
Foto: Revista Quatro Rodas, Ano XXIII. Nº277. Pg. 151. Editora Abril. Agosto-1983.
Após o teste, Frank disse a Ayrton: “Não assine com ninguém
antes de falar comigo”. Mas Williams já tinha outros pilotos sob contrato.
Posteriormente, o britânico afirmou que foi bom para Senna não ter sido
contratado naquele período, já que o carro do ano seguinte revelou-se bem
problemático (apesar de uma vitória e um segundo lugar de Rosberg), com várias
retiradas.
25 de outubro de 1983.
Silverstone, Inglaterra. Ao testar a McLaren-Ford/Cosworth MP4/1C (Mrlbr
Project Four) 3.0 V8 aspirado (primeiro carro a utilizar fibra de carbono em
seu monocoque), em Silverstone (juntamente com Martin Brundle e Stefan Belof,
superando ambos), Senna afirma ter se sentido bastante confortável ao guiar o
carro, obtendo resultados melhores do que esperava e observando a importância
que um carro rápido e bem acertado tem para o bom desempenho do piloto. O que
Ron Dennis se propôs a oferecer a Senna foi a posição de piloto de testes, mas
sem perspectivas de assumir um dos postos, (algo semelhante ao que Frank
Williams propunha) visto que contava com Alain Prost e o então bicampeão Niki
Lauda. Senna declinou.
McLaren-Ford, 1983
Foto: Ayrtonsenna.de
09 de novembro de
1983. Silverstone, Inglaterra. No teste com a Toleman-Hart TG183B 415T 1.5
L4 Turbo, Senna experimentou pela primeira vez um motor com turbocompressor. Os
Ford/Cosworth aspirados que testara possuíam cerca de 510cv, enquanto que o
Hart turbo alcançava cerca de 600cv. Os motores turbo também possuíam uma
peculiaridade denominada “turbo lag”.
Consistia em uma reação retardada do motor ao se pressionar o acelerador, que
respondia com algum atraso mas de forma abrupta, acarretando em uma pancada na
nuca, devido ao forte empuxo. Chris Witty, homem de marketing da Toleman, lembra de como Senna descreveu de forma
precisa a Rory Byrne, o projetista da equipe, como estava e como queria o
ajuste do turbo. Byrne disse: “Senna é o cara. Ele é brilhante. Nós temos que
contratá-lo”. Com a pista molhada, Ayrton marcou 1:12:04 com pneus de corrida,
marca mais rápida que a de Derek Warwick, titular da equipe com pneus de
classificação. À tarde, com alguns ajustes e pista mais seca, Senna marca uma
volta de 1:11:05, que lhe conferiria a quinta colocação no GP daquele ano, à
frente das Brabham-BMW.
Toleman-Hart de 1983
Foto: Flickr.com
14 de novembro de
1983. Paul Ricard, França. Senna testa a Brabham-BMW M12 1.5 L4 Turbo, um sofisticado projeto de Gordon Murray que deu o
segundo título a Nelson Piquet. Um dos primeiros capítulos da rivalidade Senna
vs Piquet. Bernie Ecclestone, almejava contratar o brasileiro, mas a Parmalat,
principal patrocinadora, preferia ter um americano ao lado de Piquet, que
também não queria o compatriota na equipe, alegando que nunca iriam se dar bem,
por serem brasileiros (?!?). Bernie, a exemplo de outros proprietários de
equipes, estava de olho na jovem promessa e disse que Senna era mais veloz que
Piquet, e por isto ele não o queria na equipe. Piquet deu algumas voltas para
ajustar o carro, em seguida colocou pneus novos e marcou 1:06:00, Senna e Mauro
Baldi marcaram tempos próximos, com 1:06s acima de Piquet, Senna 0,1s acima de
Baldi. Ayrton disse que foi o pior teste que fez, sentindo-se desconfortável
com a Brabham. Reginaldo Leme, que acompanhou seu teste com a Williams,
acredita que o carro estava um pouco diferente, com a interferência de Gordon
Murray. Há várias versões sobre este teste, uma delas afirmando que Piquet
vetou Senna, com testemunhos de Herbie Blash, diretor da equipe, Cris Witty, da
Toleman, que participou das negociações e o próprio Senna.
Senna disse que Williams e Brabham não ofereceram uma
proposta tal como ele esperava. Bernie Ecclestone, tinha fama de não pagar grandes
salários a seus pilotos. Senna, desde outras categorias, sabia o seu valor, e
mesmo enquanto desconhecido, exigia bastante das escuderias. Um dos donos uma
vez perguntou: “Quem diabos ele pensa que é?”. McLaren e Williams desejavam
contratar Senna apenas para 1985, sem maiores garantias de que iriam ceder um
assento ao piloto.
A Lotus, apesar de não ter oferecido o carro para Senna
testar, também tinha interesse em formar uma dupla com Ayrton e Elio de
Angelis. Mas, os patrocinadores ingleses pressionaram para Nigel Mansell ocupar
seu lugar, e assim aconteceu.
Dick Bennett, chefe de equipe de sua escuderia na F3, também
havia convidado Senna para disputar o campeonato europeu de F2.
Senna também ocupou o posto de piloto de testes da Pirelli,
que fornecia pneus para Toleman, Osella, Spirit e ATS.
Senna e a Toleman em 1984
Foto: F1fanatic.co.uk
Como característica da época, notamos a insegurança na
realização de testes, sem a presença evidente de equipes de resgate. Além da
fragilidade do cockpit, fato
evidenciado no ano seguinte em um acidente com a Toleman de Cecotto.
Ayrton queria o posto de piloto titular, oferecido apenas
pela Toleman. Ele via a equipe incapaz de disputar com Ferrari, Renault e
Brabham, mas com potencial de disputar o pódio, talvez já em 1984. Senna assina
então um contrato de três anos com a Toleman, equipe média que entrava em seu
quarto ano, assumindo o primeiro posto. Dentre as cláusulas, Senna exigiu que
caso o carro não se apresentasse competitivo, rescindiria o contrato. Um carro
mediano, mas, como veremos em breve, possibilitou a Ayrton mostrar a que veio.
Senna fala sobre seu contrato com a Toleman
Fonte: Canal de Marco José
Curiosidade: a Toleman foi comprada pela Benetton, que foi
comprada pela Renault, hoje denominada Lotus.
Referências
HILTON, Christopher. Ayrton Senna: uma lenda a toda velocidade: uma
jornada interativa. São Paulo, Ed.
Global, 2009.
Revista Quatro Rodas Ano XXIV. Nº280. Pg. 186. Editora Abril.
Novembro-1983.
Revista Quatro Rodas Ano XXIV. Nº283. Pg. 135. Editora Abril. Fevereiro-1984.
Revista Quatro Rodas Ano XXIV. Nº283. Pg. 135. Editora Abril. Fevereiro-1984.
RODRIGUES, Ernesto. Ayrton: o herói revelado. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2009.
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