domingo, 23 de agosto de 2015

AUTOMOBILISMO E MÚSICA (PARTE 3): TELL ME WHY - SUPERMODE

Tenho predileção por músicas das décadas 1980-90, e gosto de pouca coisa de épocas mais recentes. Dessas poucas músicas, resolvi rever uma esta semana e ao assistir o clip, que não conhecia, uma grata surpresa. É ambientado em um kartódromo tipo indoor, focando na disputa entre dois pilotos, que rivalizam desde a colocação dos macacões nos vestiários até o fim das duas baterias, ao som do estilo synthpop.

Trata-se da música Tell Me Why, do grupo sueco Supermode, de 2006:

Vídeo: Tell Me Why - Supermode

Uma disputa de velocidade, belas mulheres na torcida e diferenças acertadas na pista. Noto uma pequena semelhança com a antiga rivalidade McLaren x Ferrari. Macacão vermelho com pequeno logotipo amarelo na sapatilha remetendo à equipe italiana, macacão branco com pequena semelhança aos prateados da equipe inglesa. Teria sido inspirado na F1? Fica a dúvida.

Uma das cenas do clip
Fonte: Vimeo

A seguir o piloto ponteiro roda, após acenar para a torcida, comemorando a liderança. Outra semelhança com a F1, situação sofrida por Nigel Mansell ao acenar para as arquibancadas a poucos metros do fim de um GP, deixando o carro morrer e abandonando a prova. Inclusive os capacetes possuem as mesmas cores.

Capacete estilizado com o nome da banda e música
Fonte: Wikipedia

Até que "um novo piloto”, pra lá de especial, assume o Kart número 08 na nova bateria, assume a liderança, e vence, e os dois pilotos do início voltam para o vestiário se lamentando.

E como disse um amigo que também viu o clip: “Mulheres, velocidade e gasolina, combinação perfeita”.

Referências

terça-feira, 4 de agosto de 2015

MUSEU DO VIDEOGAME ITINERANTE

O Museu do Videogame Itinerante está em Salvador desde o dia 15/07 até 05/08, permitindo aos “gamemaníacos” (expressão das antigas revistas Ação Games e VideoGame nos anos 1990), reverem e jogarem os sucessos da época.

Cartaz: Museu do Videogame
 Foto: sennabr.blogspot.com

“Durante o evento, os visitantes poderão conhecer mais de 200 consoles dos últimos 42 anos e ainda jogar os maiores clássicos em mais de 30 consoles de todas as gerações”

Cleidson Lima é o curador do museu e proprietário da maioria dos consoles da exposição. Em entrevista à Bandnews FM Salvador, conta que sua coleção cresceu de tal forma que não havia mais espaço em casa para mantê-los, sendo “sugerido” por sua esposa que encontrasse uma solução. Resolveu então compartilhar seu acervo com outros jogadores, através de exposições.

Exposição Museu do Videogame em Salvador

Os consoles encontram-se em “aquários”, com uma pequena etiqueta, descrevendo o histórico e algumas informações.

ODYSSEY

Encontro então o Philips Odyssey, meu primeiro videogame, aos nove anos de idade, nos idos de 1987. Com um teclado alfanumérico que tinha pouca utilidade, lembrava um computador. Costumava vê-lo no antigo Paes Mendonça do Iguatemi em Salvador. Nos EUA chamava-se Odyssey 2, por aqui teve venda discreta, pouca gente conhece, pois logo a seguir foi lançado o Atari 2600 e seus clones.


À esquerda River Raid do Atari, à direita, Come-Come do Odyssey

Dentre os jogos estavam os clássicos: Come-Come, Didi na Mina Encantada, Formula 1/Interlagos/Crypto-logic (este último o tradicional jogo da forca, que utilizava o teclado e ao final mostrava o número de erros), Senhor das Trevas, OVNI, Esqui nos Alpes, QBert, Tartarugas, Abelhas Assassinas, Acoplagem/Resgate e alguns com nomes bem incomuns: Pegue o Dinheiro e Corra, Macacos me Mordam, Barricada! Demolição! Acerte seu Número, Matemágica, Defensores da Liberdade.

Philips Odyssey

Possuía capas com designs bem trabalhados, que na verdade eram livretos com informações, com grande estímulo visual que instigavam as crianças a obter os jogos. Recomendo visitar: http://odysseybrasil.blogspot.com.br

Jogos de Odyssey

Aqui um vídeo com um comercial da época:

ATARI

Seguindo a ordem cronológica, o Atari 2600, segunda geração de videogames, que me foi presenteado em 1988. Mega sucesso de vendas e bastante difundido, hoje é item cult dos Anos 80. Possuía inúmeros fabricantes de clones e de jogos, (Polyvox, CCE, Dynacon, Milmar, Supergame, Dactari, Activision). Dado o seu sucesso, era comum emprestar cartuchos entre os amigos.

Cartaz simulando TV antiga com um dos jogos mais populares do Atari 2600: Enduro

Dentre diversos títulos estão: Enduro, River Raid, Pitfall, Pac Man, Keystone Kappers (chamado de “Pega Ladrão”), Smurfs, H.E.R.O., Frostbite, Freeway, Megamania, Donkey Kong, Tank Attack, Moon Patrol, Seaquest, Jungle Hunt, Bobby is Going Home, Atlantis, Superman, Adventure, Boxing, Arkanoid, Entobed, Star Wars, etc, etc, etc. Além de bombas de jogos horríveis como E.T. e Mr.Chin. A Atari ainda lançou os modelos 5200 e 7800, que não obtiveram o sucesso esperado.

 Atari 2600

SEGA MASTER SYSTEM

O próximo console foi o primeiro que avistei na exposição, a cerca de 50m de distância, do segundo piso. Um grande clássico, obtido nos idos de 1990. Primeiro console de terceira geração (8 bits) à venda no Brasil. Parceria da Sega com a Tec Toy, empresa de brinquedos que ocupava o recente nicho de diversões eletrônicas. Pouco antes o “Pense Bem”, também pertencente à companhia, era o produto de desejo das crianças do país. Possuía bons gráficos e jogos adaptados dos fliperamas, como After Burner e Double Dragon. Era muito superior ao Atari 2600. Muito bom videogame, mas não teve a mesma penetração no mercado que os similares da Nintendo. Teve mais sucesso na Europa que nos EUA. Possuía em geral jogos fáceis de “zerar”. Comprei o meu na Loja W.Shock ou W.Som, não lembro bem o nome, no Shopping Barra de Salvador, local hoje ocupado pela loja Ortobom, no corredor da Perini.

 Master System

Havia um programa na TV que passava dicas dos jogos, e só agora descobri que era apresentado por Rodrigo Faro, veja no vídeo abaixo. Lembro de um outro na TV Manchete.

Programa Master Dicas

Havia também a Hot Line Tec Toy, que apresentava mensagens gravadas, mas também era possível falar com um atendente, que dava dicas sobre os jogos desejados, ainda lembro do número que era anunciado nas páginas das revistas de videogame: (011)260-3877.


Os diversos modelos de Master Systems no Brasil

Dentre os bons jogos estavam os quatro que possuía: Double Dragon, Shinobi, Golden Axe e E-Swat além de Black Belt, Alex Kidd in the Lost Stars, Alex Kidd in the Miracle Word, Astro Warrior, Jogos de Verão, Hang On (que vinha na memória), Out Run, Vigilante, Golden Axe, Ghouls’n Ghosts dentre muitos outros. Havia também o jogo oculto do labirinto. Os jogos eram divididos por sua resolução, dois megas, quatro megas.
Pesquisando sobre os jogos do Master System, lembrei que fiz a edição de alguns dados da Wikipedia há muitos anos e continuam no ar:

Alex Kidd in The Lost Stars - ... Ótimos gráficos, boa jogabilidade, destaque para a fase do espaço, com super-pulos;
Black Belt - Jogo de luta de rua, versão do japonês Hokuto No Ken, porém mais fácil. Músicas bem elaboradas, bons gráficos e lutas estilo Street Fighter com os chefes no fim dos estágios são os pontos fortes deste jogo.
Double Dragon - Boa conversão dos arcades deste clássico dos games de luta de rua. 30 giratórias na fase final garantia continue infinito.
E-SWAT - Jogo de ação estilo Robocop, nas primeiras fases o policial deve provar sua capacidade em vestir a armadura ciberbética. Nas fases seguintes seu poder de fogo aumenta e poderá utilizar armas especiais mas com uso limitado. Músicas bem elaboradas e chefes legais de se enfrentar.

Havia também acessórios, que podiam ser utilizados nos jogos. O Rapid Fire era um pequeno adaptador, que colocado entre o joystick e o console permitia acionamentos constantes dos botões, pressionando apenas uma vez. Ideal para jogos de naves com tiros, mas péssimo para outros que possuíam função de pulo. Jogos de tiro em primeira pessoa exigiam a pistola Light Phaser, baseada no personagem do jogo Zillion. Dentre os jogos estava o Wanted, estilo faroeste e o Safari Hunt, que também vinha na memória. Outro acessório era o óculos 3D. Um sonho de consumo para poucos, eu mesmo nunca utilizei nem vi.

 Rapid Fire, Pistola Light Phaser e Óculos 3D

Esta também foi a época das revistas sobre videogames: Ação Games, VideoGame (possuo até hoje as primeiras edições) e posteriormente Supergame (somente jogos da Sega) e GamePower  (somente jogos da Nintendo). E das locadoras de jogos de videogame. Frequentava a SóGames do Barra Center em salvador.



Revistas sobre Videogames dos Anos 1990

Aqui é possível ler a versão digitalizada de boa parte delas: http://www.datacassete.com.br/revistas/publicacao/Videogames/57.html

E aqui a versão portátil, com o tamanho de uma fita VHS, o Game Gear, que tinha menor capacidade de gráficos:

Game Gear, o 8 bits portátil da Sega

O popular e recente desenho “Apenas um Show” (Regular Show) exibido atualmente em canais fechados, faz diversas referências aos Anos 80, inclusive o videogame da dupla é um Master System, apesar de o chamarem apenas de videogame. Faz referência a um jogo similar ao Double Dragon, chamado “Caras bons de briga”, se não me engano, além da Power Glove da Nintendo.

 Apenas um Show, com Master System e Power Glove

Pesquisando, vi também a origem do fato de muita gente chamar cartuchos de fitas, que decorre de que alguns jogos e consoles antigos eram carregados através de fitas K7.

NINTENDO ENTERTAINMENT SYSTEM (NES 8 BITS)

A seguir, um console que trouxe outra rivalidade, a exemplo de Odyssey x Atari, mas em dimensões muito maiores, e que se estendeu por anos e envolveu diversas plataformas. Sega x Nintendo, Master System x NES. Começou suas vendas no Brasil pouco após a chegada do Master System. Mais barato e com maior disponibilidade de títulos, apesar de uma pequena inferioridade nos gráficos e cores, alcançou maior popularidade.

 Super Mario 3, NES

A exemplo da Atari, possuía mais fabricantes de jogos e de consoles. Por aqui dispúnhamos do Phantom System da Gradiente, Top Game VG-9000 da CCE (pra mim o melhor, incluindo seu joystick pequeno e justo. Vinha com o jogo Tiger Heli) e Turbo Game VG-9000T (muito parecido com o Top Game, mas possuía botão turbo, com a mesma função do Rapid Fire do Master, mas um péssimo controle direcional e design invertido em comparação ao Phantom).

 Phantom System, da Gradiente do Brasil

Como a Nintendo produzia jogos e consoles com entradas diferentes, havia o padrão japonês de 60 pinos e o americano de 72, o que exigia adaptadores entre os sistemas.

Controle do Phantom System

O Top Game surgiu como alternativa aos adaptadores, uma tampa que deslizava liberando um dos padrões.

 CCE Top Game VG-9000

Curiosamente, em 1991, fui a um posto de anúncio do jornal A Tarde para colocar meu Master à venda para posteriormente comprar um Top Game, mas o funcionário disse que tinha um Phantom e estaria disposto a permutar. Veio com a Pistola Laser Gun e 11 cartuchos: Ghostbuster, Super Sprint, Pitfall, Excite Bike, Duck Hunt, e Top Gun no sistema americano e Robocop, Jaws, Super Mario 3, Megaman 3 e Ninja Gaiden II no sistema japonês, além de comprar posteriormente Tartarugas Ninja 2, na antiga Mesbla da Avenida Sete e The Simpsons: Bart vs. The Space Mutants.

Aqui o console original que gerou os clones. Creio que só vi um em funcionamento à época.

 NES 8 bits.

E aqui o Geniecom, que só via nas revistas, até que um amigo vindo do Mato Grosso, que possuía um exemplar mudou-se para minha região.

 Geniecom

Dentre outros bons jogos não citados anteriormente estavam: Double Dragon 1 (a versão do Master era melhor) e 2, Contra, Battletoads, Elevator Action, Jackie Chan, Castlevania, Batman, Bad Dudes, Tetris, Gradius, Arkanoid, Circus Charlie, Track & Field, Punch Out e muitos outros.

Havia um desenho animado ambientado no universo da Nintendo denominado "Capitão N", em que os personagens eram os protagonistas dos jogos Megaman, Kid Icarus e Castlevania (Simon Belmont, com dublagem de Garcia Júnior, dublador de Van Damme entre outros), passava pelas manhãs na Rede Globo.

Capitão N

MEGA DRIVE

Primeiro console de 16 bits no Brasil, quarta geração dos videogames. Seu formato dava a impressão de tratar-se de um console que utilizava CDs, algo que só aconteceu com a chegada do Mega CD/Sega CD, que também havia na exposição. Era um item de desejo nas prateleiras das lojas.

 Sega Genesis

Os gráficos eram muito superiores aos da geração anterior, as screenshots do jogo de entrada, Altered Beast constituíam a caixa do aparelho, impressionando pelos detalhes. Comprei o Sega Genesis, versão americana em 1992 ao ver um anúncio de jornal. Coincidentemente, o vendedor morava na rua vizinha à minha. Como o sistema americano era o NTSC, era necessário realizar a transcodificação para o sistema brasileiro, PAL-M, para não jogar em preto e branco. Mas, um subterfúgio para adquirir um console com preço mais em conta.

Foi uma categoria que evoluiu à medida que novos jogos exploravam a capacidade do aparelho. Basta lembrar de Flicky no início e Mortal Kombat e Virtua Racing em fases posteriores. Lançou conversões de jogos de fliperama da Sega bem mais fidedignos que os do Master, tais quais Double Dragon, Side Pocket e Pit Fighter.

 Versões do Mega Drive/Sega Genesis

A ampla variedade de títulos, juntamente com o pioneirismo neste nicho, permitiu ao Genesis/Mega Drive uma boa aceitação no mercado, mas superado pelo console seguinte.

 Jogo de luta Pit Fighter, produzido pela Atari
Imagem: Youtube.com

Burning Force foi o primeiro que joguei, em uma locadora de jogos do Orixás Center nas Mercês, centro de Salvador. Uma experiência diferente do Master e Phantom, em razão das cores e dinâmica dos gráficos, bem como do som. O segundo foi Pit Fighter, clássico jogo de luta em uma época pré Street Fighter 2 (contemporâneo do Street Fighter 1 na verdade), que utilizava figuras digitalizadas, Ty, Kato e Buzz eram os lutadores, sendo o primeiro uma versão full contact de Jean-Claude Van Damme. A seguir Sonic surgiu como um blockbuster no mundo dos games. O que lhe rendeu uma franquia de diversos outros jogos.

 Sonic do Mega Drive/Sega Genesis

Alguns jogos de sucesso não citados anteriormente: Golden Axe, Desert Strike, Streets of Rage 1 e 2, Chakan (este bem original e sombrio, com músicas no estilo medieval) Super Monaco GP, AYRTON SENNA’S SUPER MONACO GP 2, (que já fiz uma postagem), Virtua Fighter, Kid Chameleon, Castle of Illusion, Shape and Columns, Flashback, Ghouls’n Ghosts, Golden Axe 2, Alien Storm, Spider-Man, The Revenge of Shinobi, Shadow Dancer, Road Rash 1, 2 e 3, Moonwalker, Toki Going Ape Spit, Super Volleyball, Mortal Kombat 2, Ghostbusters, Evander Hollyfield Real Deal Boxing com a “manha” de utilizar o lutador verde “The Beast”.

 Ayrton Senna’s Super Monaco GP 2

Houve a popularização dos pedidos de jogos via correio, por lojas em geral de São Paulo, que enviavam catálogos e preços para compras posteriores através de depósitos bancários. Jogos mais modernos, como o Virtua Racing, que utilizavam gráficos poligonais, possuíam cartuchos maiores, com processadores externos, de modo a contribuir com um melhor desempenho do console.

Aqui também havia o padrão americano (utilizado também pelo Mega Drive brasileiro) e o japonês, mas não eram necessários adaptadores. Bastava colocar a placa eletrônica diretamente (abrindo os cartuchos), ou derreter duas pequenas travas metálicas do Mega/Genesis, que passava a aceitar os cartuchos japoneses, um pouco justo, mas comportava.

Com a fabricação de jogos mais complexos, como Mortal Kombat 2, foram colocados no mercado controles de seis botões.

Acessórios permitiam dar um upgrade no console, o sonhado Sega CD, nos EUA ou Mega CD no Japão, que acoplavam-se em uma entrada lateral do aparelho. A mesma que prometia jogar com um amigo através de conexões telefônicas discadas, nos primórdios da internet. Devido aos altos preços e problemas com a velocidade de carregamento não se popularizou.

 Sega CD

O adaptador 32x possibilitava utilizar jogos com maior capacidade de gráficos e velocidade de processamento (32 bits). Por aqui não pegou.

 Adaptador 32x do Mega Drive

SUPER NINTENDO

Super Nintendo

Pouco após o Mega Drive, surge no Brasil o Super Nintendo, com maior jogabilidade, melhores gráficos e uma boa gama de títulos da Nintendo. Provavelmente o maior sucesso foi a conversão do fliperama do Street Fighter II. Não tive o console, mas, nos idos de 1993 jogava com amigos ou em locadoras.

Street Fighter 2 do SNES
Imagem: Youtube.com

SEGA SATURN

Este foi o último videogame que adquiri. Anunciei a venda do Genesis, e a exemplo do Master houve alguém interessado em trocar pelo Sega Saturn, um console superior mas sem controles e com quatro jogos: Sega Rally Championship de corrida, Christmas Nights, uma aberração tipo um Sonic voador, um de futebol da série Fifa, e outro que não me lembro.


Chegamos então a um estágio de ótimos gráficos, mas jogos repetitivos, sem muita jogabilidade e diversão, opinião que mantenho até hoje em relação aos demais consoles que o sucederam.

 
Sega Rally Championship


Desde a época da internet discada, por volta do final da década de 1990, é possível relembrar os jogos antigos através de emuladores, e mais recentemente de jogos online. Costumava acessar sites como o Baú de Jogos (com screenshots e informações com críticas bem humoradas das mais variadas plataformas) e Emuasylum, extinto site estrangeiro, portanto não perdi o contato com os games “dos bons tempos”, mas sempre é bom relembrar estes momentos lúdicos da infância e adolescência, e rever pessoalmente os equipamentos.

Porém, mais do que simples brinquedos, Cleidson em sua entrevista afirmou que os videogames são integrantes da cultura popular, pensamento que coaduno. Em seu site, um informe declara que o Ibram, Instituto Brasileiro de Museus, mapeou o seu museu itinerante como o primeiro Museu do Videogame do país. Constituem também um gênero musical; pouco depois do aparecimento dos emuladores, jogadores com habilidades musicais realizaram versões das trilhas sonoras dos jogos. O primeiro que conheci foi o Nino, que mantém até hoje o domínio www.nino.com.br, que direciona para o site de sua banda Mega Driver, com belas versões do jogo Streets of Rage, por exemplo, além de uma guitarra estilizada com um console do 16 bits da Sega. Outras boas versões surgiram do site Ocremix, com muito bem trabalhadas versões das músicas do Mega Man 3 dentre diversas outras.

O Museu agradou diversos públicos, cada geração com suas referências de videogames. Vi senhores próximos dos 60 anos jogando o pioneiro Telejogo da Philips com seus filhos e netos, vi crianças e adolescentes nas competições de “Just Dance”, o público jovem que foi prestigiar o recente Playstation 4, e diversos fãs de Cosplay, devidamente caracterizados participando também de disputas de fantasias mais realistas, em especial de Animes, personagens freqüentes nos jogos eletrônicos.

Exposição Museu do Videogame em Salvador
Esta diversidade contribuiu para levar os aficionados ao shopping, mesmo em um momento de implantação de cobrança de estacionamento, em que há um certo boicote popular por aqui. A heterogeneidade também acarretou em certos momentos de desconforto. Eu, por exemplo, apreciaria mais caso fossem eventos distintos: o museu dos jogos, com os consoles antigos em um momento, e os eventos de dança e cosplay em outro, pois com os espaços lotados não pude ver com mais atenção outros consoles não contemporâneos à minha época.

Mas foi interessante ver as famílias compartilhando lembranças de épocas mais leves. Homens apontando para suas namoradas/esposas e filhos seus primeiros videogames, revivendo emoções, relembrando fatos, mergulhando no passado, trazendo de volta  momentos marcantes de suas vidas, novamente com o entusiasmo de uma criança.

Aqui o Blogger com o boné da Lotus de 1985/86, da loja Formula Retro, ao lado do saudoso Genesis

E pra finalizar uma lembrança gravada em 1991 e que me acompanhou durante todos estes anos, inicialmente em VHS e posteriormente com a digitalização que outro “gamemaníaco” fez e postou no Youtube. Programa Globo Repórter intitulado “A Febre do Videogame”. Vale a pena ver ou rever, são vários vídeos.

Globo Repórter - A Febre do Videogame
Vídeo: Canal de Fokerg

E já que videogame é cultura, topei por acaso ou não com o livro abaixo na livraria das imediações do evento. Pensei em comprar, mas como apenas metade do número de páginas era de jogos da minha época, declinei.

 Livro: 1001 Videogames para Jogar Antes de Morrer



Referências


sexta-feira, 1 de maio de 2015

21 ANOS DA MORTE DE SENNA. FILME: “SENNA” - AUTOMOBILISMO NO CINEMA (PARTE 3)


Mais um ano da morte de Ayrton Senna, e dessa vez trago o filme “Senna” para homenageá-lo. Trata-se de um projeto em que o cineasta Asif Kapadia buscou vídeos do Youtube e do acervo da F1 para reviver a história do piloto. Deveria passar na Globo novamente, pelo menos a cada primeiro de maio. Um bom material para quem não pôde acompanhar sua carreira ou quer rememorá-la.

Capa de "Senna"

“Ele foi o melhor piloto que já existiu”. Frase do piloto austríaco também tricampeão, Niki Lauda, que estampa a capa do DVD/Blue Ray.

Ano de 2010, acomodo-me na poltrona das últimas fileiras da sala vazia de cinema, um pouco decepcionado com a pouca audiência dada pelo público soteropolitano. Mas a seguir, lentamente, espectadores vão adentrando. São principalmente homens, maior público interessado por automobilismo, Formula 1 e Ayrton Senna, mas algumas namoradas e/ou esposas os acompanham. À medida que o horário da exibição se aproxima, aumenta o número do público. Vou contando quantos até que o filme começa, cerca de 40 pessoas na sala. Lembro o que conversei com o amigo Cláudio do blog APAIXONADO POR F1, que andava com a agenda apertada, estimulando-o a assistir o documentário: “em que outra oportunidade você poderá assistir Formula 1 no cinema novamente?”. E o som dos motores, freadas e batidas foi um grande diferencial, pois na TV costumavam parecer abafados. Por acaso, não demorou muito, pois outro filme com a F1 como tema estreou em 2013: RUSH - NO LIMITE DA EMOÇÃO.

Senna, no Kart

Cenas iniciais do piloto então com 18 anos, campeonato mundial de kart de 1978, com o kart número 1. Sua voz em inglês ao fundo rememorando aquela época: “era só pilotagem, só corrida. Não tinha nenhuma política, nem dinheiro, então era corrida de verdade”. Uma frase em que ele fez referência ao que aconteceria na F1, 11 anos depois. Então, seus pais Milton e Neide, além do recém-falecido preparador de motores Tchê, despedem-se de Ayrton no aeroporto, que partia para a Europa para disputar a Formula 3.

Teste Williams, 1983


O teste na Williams 1983, e então, imagens computadorizadas do túnel de Mônaco, ao som do motor Honda. Surge então o nome do documentário: “Senna”. Mônaco que seria moradia e circuito em que Senna mantém até os dias atuais o recorde de vitórias, seis, e quase seriam sete, pois venceria em seu primeiro ano de F1, 1984, apenas seu oitavo GP. Exatamente onde o filme passa a ambientar-se. Em entrevista a Reginaldo Leme o piloto faz sua avaliação do circuito que começara a conhecer: “... na pista em si, saindo nas primeiras voltas, felizmente consegui me adaptar rápido. Agora... você não tem margem de erro. Um erro significa um acidente aqui. Mas até o momento eu estou contente”.  Reginaldo Leme então complementa: “a Toleman (equipe em que o piloto estreou na categoria) não era uma equipe vencedora, não seria possível vencer nenhuma corrida. Por isso, o que Ayrton fez em Mônaco é assim coisa de um gênio”.

Toleman , 1984

Corrida com chuva, Senna larga em 13º e vai avançando. 7º, pilotos mais experientes como Mansell e sua Lotus-Renault penam para manter-se na pista e acabam batendo. Ultrapassa a Williams-Honda de Keke Rosberg, e assume a terceira colocação. Uma passagem mais afoita pela alta chicane compromete o perfeito funcionamento da suspensão dianteira direita, mas continua avançando. “Passa por Niki Lauda (McLaren-TAG), assume a segunda posição Ayrton Senna, no ponto mais perigoso do circuito!!!”, narra efusivamente Galvão Bueno.

“Estamos assistindo à chegada de Ayrton Senna, e que primoroso talento!”, comenta JAMES HUNT, campeão de 1976. Senna faz a volta mais rápida e aproxima-se do francês Alain Prost e sua McLaren-TAG tirando três segundos por volta. Eis então que Prost acena para os fiscais pedindo o fim da corrida, posteriormente alegando questões de segurança, e é atendido. Bandeira vermelha, Prost encosta e Senna passa, mas valeria o resultado da volta anterior. Prost em primeiro, Senna em segundo. “A Formula 1 é política, é muito dinheiro, e quando você está chegando lá, você tem que passar por isso”, afirma o piloto, parecendo conter suas palavras. Senna contido no pódio, mas vibra ao deixá-lo.

 Lotus-Renault, 1985

1985
Senna vai para a Lotus, equipe de tradição em vitórias e campeonatos, buscando progredir na carreira e como piloto.
GP de Portugal, 21 de abril, segunda corrida de Senna na Lotus. Um cenário conhecido: chuva, pista molhada, seu talento sobressaia-se aos demais. Algo que revelou posteriormente, pilotava muito mal no kart quando chovia, a partir daí passou a treinar insistentemente até dominar a técnica. Outro acerto que costumava fazer era calibrar os pneus de chuva algumas libras acima do indicado, de modo a permitir maior escoamento da água e melhor aderência, bem como manter um ritmo forte para os pneus não esfriarem. Obtém sua primeira vitória em Estoril, colocando uma volta de vantagem em todos os adversários à exceção do segundo colocado. Hino brasileiro e bandeira verde amarela no alto do pódio.

Senna em suas voltas classificatórias exigia ao máximo dos carros. “Ele fazia seus carros irem além do que eram capazes. Freava mais tarde, voava nas curvas com o carro quase saindo pelas zebras. Não sei como, dava um jeito de dançar com o carro para mantê-lo na pista”.

Surge novamente a figura de Alain Prost, como o melhor piloto (campeão em 1985-86) no melhor time (McLaren), além de mestre em usar sua influência política e sua amizade com o então presidente da FISA, o também francês Jean-Marie Balestre em seu benefício.

Marlboro McLaren-Honda, 1988

1988
Forma-se a parceria dita por Ron Dennis com a dos dois melhores e mais profissionais pilotos do mundo. Senna precisava provar que merecia estar na melhor equipe (Marlboro McLaren-Honda, MP4/4), contra o melhor piloto de então.

14 de maio. Um evento que afetou Senna profundamente. GP de Mônaco, Ayrton lidera com quase um minuto de vantagem para Prost, quando se desconcentra e bate no muro. Pensava em aplicar uma grande vantagem psicológica, talvez até dando uma volta no francês, mas falha e perde a liderança do campeonato. Em um ambiente de egos inflados e pilotos voltados ao seu próprio umbigo, aproxima-se da religião e de seu melhoramento como pessoa.

30 de outubro. Decisão do campeonato, GP do Japão, autódromo de Suzuka. Mais uma das grandes vitórias de Senna. O piloto estava bastante tenso na largada, mesmo na pole e deixa o carro morrer. Consegue ligar o carro que morre novamente. A seguir, consegue ligá-lo, “no tranco”, pois havia um pequeno declive no grid. Cai para a 16ª posição e inicia uma corrida de recuperação. Após várias ultrapassagens, começa uma fina chuva, que trás vantagem ao brasileiro que finalmente ultrapassa Prost e assume a liderança do GP. Vence, conquista seu primeiro campeonato e em uma entrevista em que conversa com o cantor Roberto Carlos, durante um passeio em um carro conversível, afirma que naquele momento sentiu a presença e visualizou Deus. Algo muito utilizado de forma prejudicial pelos opositores do piloto, principalmente Prost e a imprensa marrom. Os brasileiros vibram com a conquista. Mesmo sendo madrugada no país, vários acompanharam a corrida épica.

Senna x Prost, 1989
Foto: Vavel.com

1989
Aumenta a rivalidade entre os dois pilotos da McLaren, há uma cisão na equipe, desavenças quanto ao acordo de San Marino, deixam de se falar. Foco na figura desprezível de Balestre e seu tom autoritário, arrogante e centralizador, além de sua estreita ligação com Prost.

22 de outubro. Senna na pole, larga mal e Prost ultrapassa. Segue a corrida com Senna perseguindo o francês, e na volta 46, a sete voltas do final Prost abre demais e Senna se lança para contornar a Chicane “Casio” à sua frente. Prost fecha a porta e chocam-se. Alain abandona e Ayrton pede aos fiscais que empurrem o carro para voltar para a corrida. Retorna à pista pela via de acesso das ambulâncias, vai aos boxes trocar o bico danificado e volta pra pista aos berros do motor Honda V10 aspirado de 3,5 litros em busca da Benetton-Ford do então líder Alessandro Nannini. Prost percebendo que perderia o campeonato, corre para a torre de controle do GP, em busca de subterfúgios no regulamento, ou em outras palavras o “tapetão”. Senna ultrapassa o italiano na volta 51, da mesma forma que faria com Prost, se este não tivesse jogado seu carro. Vence a corrida, comemora, mas o pódio é postergado. A direção decide desqualificar Senna por ter utilizado a pista de serviço e não ter contornado a chicane. Em Adelaide-Austrália, etapa de encerramento do campeonato, um transtornado Ron Dennis exibe um vídeo de 1981 em que pilotos seguiram pela mesma pista de acesso sem sofrer quaisquer punições, demonstrando a real intenção do presidente da FISA em prejudicar o brasileiro e favorecer o frenchman, que “leva” o título de campeão.

Balestre, bebendo calma e cinematograficamente um copo de água, anuncia uma punição de seis meses de suspensão a Senna, acusando-o de causar o acidente. Senna se revolta, dizendo que foi tratado como um criminoso e cogita não correr a temporada de 1990. Ron Dennis o convence a continuar.

Senna x Prost, 1990

1990
Prost vai para a Ferrari. Senna presencia um terrível acidente do irlandês Martin Donnely, que sobreviveu, mas teve traumas cranianos e nas pernas, nos treinos para o GP da Espanha, algo que o abala, o faz refletir sobre as possibilidades de acidentes, mas que não o faria desistir de sua carreira. Tanto que retorna para a pista e faz a pole.

21 de outubro. Suzuka mais uma vez. Alguns fatos que evoluíram para o que aconteceria mais tarde durante a prova:

1) Durante o brieffing, “alguém”, em um raro momento de seriedade e respeito aos colegas de profissão, sugere a Roland Bruynseraede, comissário chefe, que se o piloto passar reto na chicane o mais seguro é seguir a pista de acesso, tal qual Senna fez no ano anterior, em vez de retornar e cruzar a Casio, todos concordam. Senna corretamente se revolta, pois foi punido por algo que poderia ter sido evitado. “É uma piada, depois do que aconteceu no ano passado, essa situação é uma piada. Acabaram de provar, eu não disse nada, mas, trouxeram o assunto à tona e todos concordaram. E o ano passado foi muito ruim para mim”.
2) Senna pede a Bruynseraede que a pole seja movida para a parte limpa da pista, pois como estava, prejudicaria em invés de favorecer o piloto que tivesse obtido o melhor tempo. Senna conquista a pole, mas Roland-Balestre-FIA não atendem ao pedido de Senna, que larga da parte suja da pista, fora do traçado ideal.
3) A lembrança de tudo que aconteceu no ano anterior para favorecer o francês vinha à mente de Senna, que percebia que estava passando por tudo novamente, sendo prejudicado no tapetão mais uma vez. “O sistema ferrou comigo várias vezes, então eu disse para mim mesmo: hoje, de jeito nenhum”.

Como esperado, Senna larga com pouca tração e Prost passa. Na primeira curva, Ayrton joga sua McLaren contra a Ferrari do francês, colocando ambos para fora da corrida. Senna ganha o título de campeão de 1990, da mesma forma que Prost fizera no ano anterior. Interessante observar um comentário de Ron Dennis quando Senna volta para os boxes. Que sua linguagem corporal, seus tiques mostram que ele não estava satisfeito como que acabara de fazer. Viu-se obrigado a utilizar as mesmas armas dos inimigos, o que ia contra os seus princípios.

Ao receber seu título, na premiação da FIA, teve que apertar a mão de Balestre que tentava controlá-lo fisicamente, determinando exatamente onde deveria se posicionar no palco. Senna então sorri e ergue a premiação bem próximo à face de Jean-Marie.


Senna recebendo o título de 1990

Segue-se então a famosa entrevista com Jackie Stewart, que acusa Senna de provocar muitos acidentes. Senna sorri ao prever a pergunta e questiona o por quê de um piloto tão experiente fazê-la. Contesta e afirma, que se um piloto não arrisca uma ultrapassagem ao observar uma abertura não é um piloto de corridas. Senna rompe a amizade com Stewart, ficando anos sem falarem-se.

Vemos então imagens de como Senna era adorado no Japão, terra da Honda. Os japoneses se identificavam com o modo como Ayrton se dedicava ao trabalho, desenvolvimento do carro e do motor, tal qual um Samurai, que busca a perfeição. Por outro lado, a situação de miséria no Brasil era um contraponto. Um brasileiro que dava certo era uma catarse para o povo que o admirava. E Viviane Senna em sua fala dá uma indireta em “alguém”, ao afirmar que Senna sempre reafirmava sua nacionalidade, ao contrário de “outros”.

1991
21 de março. Data de seu aniversário de 31 anos. Senna lidera o GP do Brasil com facilidade, mas a caixa de câmbio quebra e trava na sexta marcha, basta ouvir o som do motor para comprovar. Senna tem que mudar o estilo de pilotagem para continuar e buscar a vitória, mesmo com a rápida aproximação do italiano Ricardo Patrese e sua Williams-Renault. Leva o carro “no braço” e ganha pela primeira vez em casa. Sofre grande desgaste físico, pois tinha mania de apertar seguidamente os cintos de segurança, durante a tensão pré-largada, o que neste caso reduziu o fluxo sanguíneo para os braços, e aliado com o esforço de manter o carro na pista, fez com que se prostrasse no carro ao final da corrida. Mais uma vitória épica. Torcida, fiscais, equipe, todos vibram. O desgaste se reflete na tentativa de erguer o troféu e a champanhe. Fãs festejam na frente da casa de Senna, que surge para cumprimentá-los.

28 de julho. No brieffing do GP da Alemanha mais um embate com Balestre, sugerindo a troca de pneus e barreiras que poderiam fazer um carro decolar, caso passasse reto em uma chicane, por cones. O francês mais uma vez, com arrogância e prepotência discute e exalta-se, constrangendo também seu assessor Bruynseraede. Senna utiliza o regulamento e convence os pilotos a apoiarem sua ideia. Balestre fala: “A melhor decisão é a minha decisão”. Senna retruca: “eu tenho essa impressão”, ou no inglês uma melhor interpretação da fala: “I have a feeling for that” que certamente refere-se ao passado em que as “decisões” de Balestre prejudicaram Senna, enquanto os pilotos riem. “Minha decisão é sempre a melhor”, Balestre insiste, em uma demonstração de “humildade”. Durante a corrida, o próprio Prost avançou nos cones ao tentar frustradamente ultrapassar Senna. O francês culpa o brasileiro, que devolve dizendo que quem conhece Prost sabe que ele sempre reclama dos pneus, do carro, da equipe, dos mecânicos, do combustível ou dos outros pilotos e que nunca era culpa dele.

19 de outubro. GP do Japão. Senna x Mansell na disputa do título. A Williams-Renault FW14 já era um carro superior à McLaren-Honda MP4/6, fato observado em meados da temporada. Senna larga na frente, perseguido de perto pelo inglês, que comete mais um de seus conhecidos erros. Na volta nove, passa reto na primeira curva e abandona. Senna conquista o tri, retorna para São Paulo e recebe as chaves da cidade. “É a única coisa que o Brasil tem de bom”, fala uma fã que aguarda a comitiva com Senna em desfile pela megalópole, frase semelhante disse Arnaldo Jabor, em um momento anterior do documentário.

Ao fim da temporada um encontro inusitado. O então recente programa “Casseta e Planeta Urgente” com o seu repórter Bussunda fantasiado de piloto pergunta se alguma mulher já lhe disse: “acelera Ayrton”. Ele reluta, disfarça, mas no final afirma: “já”, e todos riem. Infelizmente, este mesmo programa, anos depois, contribuiu para difamar outro piloto brasileiro, Rubens Barrichello.

McLaren, 1992

1992
Prost se afasta da F1 e Mansell permanece na Williams, que agora conta com avançados recursos eletrônicos que dá à esta equipe uma grande margem de vantagem. Em um vídeo mostrado é possível ver como as Williams distanciam-se da McLaren de Senna com enorme facilidade. Inclusive o recorde de volta mais rápida deste ano durou por muito tempo. Sem condições mínimas de Senna disputar o campeonato, Mansell vence com folga, apesar de grandes corridas de Senna, como a disputada em Mônaco.

McLaren, 1993

1993
Mansell migra para a Formula Indy, deixando aberto o retorno de Prost, que cria uma cláusula que veta Senna na equipe.
“Em 1993 Ayrton estava pilotando como um puro gênio. Pra mim foi sua melhor temporada” – Reginaldo Leme. GP do Brasil, da Europa e Mônaco, três das cinco corridas que Senna venceu na temporada, foram citadas, mas não mostradas. Deveriam dar destaque principalmente para a corrida de Donnington, em que passou quatro carros em menos de uma volta em forte chuva, narrada com espontaneidade por Galvão, parecendo que àquela altura, era apenas mais uma corrida normal de Ayrton.

Williams, 1994
Foto: Fanpop.com

1994
Senna vai para a Williams, que com o novo regulamento que bania as assistências eletrônicas e estreitava pneus tornou-se um carro desequilibrado e arisco. Os recursos que antes compensavam até erros do projeto agora demonstrava como a equipe era dependente deles. Abandonos em Interlagos e Aida e a suspeita de que a Benetton de Schumacher, que vencera ambas, teria mantido ilegalmente os expedientes tecnológicos. Senna observava o carro reduzir nas curvas e ouvia sons de “cortes” do motor, que poderiam denunciar a presença de controle de tração, bem como as largadas sem rodas patinando, uma grande vantagem para a equipe o que mais tarde foi comprovado, bem como a retirada do filtro de combustível nas mangueiras de reabastecimento, de modo a ganhar tempo nas paradas. Fato que provocou um incêndio em um dos seus carros.

GP de San Marino e algo que não gosto de rever. Muita pressão, carro instável, circuito inseguro, acidentes, mortes, ocasionadas por erros do projeto, circuito antiquado, falhas na segurança. Relato apenas que no momento da batida e anuncio da morte, na sala de cinema ouvi choros, tal qual há 21 anos. Curiosamente, dos mesmos homens que adentraram à sala de cinema acompanhados pelas companheiras, que os consolavam. Vendo-os, talvez, pela primeira vez, vertendo lágrimas. Pois é, homens também choram.

Um GP que deveria ter sido cancelado ainda com a morte de Ratzenberger no sábado, ou após a primeira largada com rodas lançadas ao público.

O mundo do automobilismo, do esporte e o Brasil entravam em luto. Comoção nacional, centenas de milhares de pessoas nas ruas de São Paulo acompanhando a comitiva.

  

Ayrton Senna

E as cenas mais emocionantes, quando sua mãe Neide o acaricia ainda nos tempos de Formula 3, e a seguir em frente ao seu caixão; sua irmã Viviane ao seu lado em algum GP ainda nos tempos de Lotus, e após com a mão acima da bandeira brasileira que cobre o esquife; seu pai Milton o abraçando após vencer em Interlagos pela primeira vez e estático no velório, enquanto apoia-se em uma bengala; Ron Dennis abraçando-o e sorrindo após sua última vitória na Austrália no fim da temporada anterior e incrédulo , com olhos fixos e sem reação, tal qual Frank Williams, Xuxa, Prost e Adriane Galisteu.

Ayrton Senna da Silva
21-03-1960 / 01-05-1994
“Nada pode me separar do amor de Deus”.